domingo, 24 de outubro de 2010

Economia solidária: Algumas definições

As duas definições abaixo são das mais usuais no que tange a Economia Solidária:

“A Economia Solidária é um projeto de organização sócio-econômica com princípios opostos ao do laissez-faire: em lugar da concorrência, a cooperação; em lugar da seleção darwiniana pelos mecanismos do mercado, a limitação – não a eliminação! – destes mecanismos pela construção de relações econômicas solidárias entre produtores e consumidores.” (SINGER, 1998, p. 9).

“Uma formulação teórica de nível científico elaborada a partir e para dar conta de conjunto significativo de experiências econômicas (...), que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que define uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas.” (RAZETO, 1993, p. 40).

SINGER, P. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São Paulo: Contexto, 1998.

RAZETO, L. Economia de solidariedade e organização popular. In Gadotti, M.; GUTIÉRRES, F. Educação comunitária e economia popular. Perdizes: Cortez, 1993.

Economia Solidária: o dilema da institucionalização - parte 2

CAPÍTULO 1: PROJETOS, PLURALISMO E A MODERNIDADE CONTEMPORÂNEA.

  • No primeiro capítulo Alcântara (2005) faz uma sobreposição das idéias de Manuel Castell com as de Boltanski e Chiapello, ou seja, respectivamente, a Sociedade em Rede com a Sociedade conexionista.

  • Onde a sociedade em rede de Castells possui as seguintes características: O autor usa referenciais marxistas, Tecnologia é igual a poder e é sinônimo de Sociedade da informação. As ideias de

    Boltanski e Chiapello são abordadas abaixo.

1. Boltanski e Chiapello: uma nova fase do capitalismo

  • Por que o capitalismo sobrevive às crises? O capitalismo incorpora todas as críticas feitas a ele e assim como no pós-guerra os trabalhadores/operários que criticavam o capitalismo foram por ele incorporados. O exemplo do Welfare state. Assim, também será com a Economia Solidária e com o cooperativismo, a institucionalização pode fazer com que o capitalismo os incorpore? Passem a ser parte do sistema? As críticas feitas ao capitalismo pode fortalecê-lo.

  • Capitalismo: “exigência de acumulação ilimitada de capital mediante meio formalmente pacíficos” (BOLTANSKI E CHIAPELLO, 2002, p. 37 apud ALCÂNTARA, 2005, p. 29).

  • “Espírito capitalista” divide-se em três fases de acordo com Boltanski e Chiapello (2002):

  1. fase: séc. XIX a 1930: o símbolo é o burguês, a organização é familiar.

  2. fase: 1930 a 1960: centralização, burocracia, grandes empresas, hierarquia, o símbolo é o “diretor”.

  3. fase: após 1960: “capitalismo globalizado” empresa rede, terceirização.

  • Para Boltanski e Chiapello (2002) o novo espírito do capitalismo (o terceiro) é justificado pela articulação em rede.

  • Devido capacidade do capitalismo de englobar as críticas, essas são classificadas por Boltanski e Chiapello (2002) em três:

  1. As que desletimiza os espíritos anteriores.

  2. As que obrigam o capitalismo a se justificar como razão do bem comum; desse pode provir um processo de aculturação, ou seja, o capitalismo pega as críticas e usa para se justificar; este é o efeito mais perverso, a crítica fortalece ao próprio capitalismo. EX: Welfare state.

  3. O capitalismo ignora a crítica.

  • Tipos de críticas:

  1. Artística: contesta o capitalismo.

  2. Social: mostra as consequências do capitalismo.

2 Domingues: uma nova fase da Modernidade

  • Domingues (2002): teoria social

  • Teoria social: reflexividade, desencaixe, reencaixe e modernidade de articulação mista

  • O foco de Boltanski e Chiapello é com o espírito do capitalismo, Domingues (2001) adentra na nova fase da modernidade se focando na expansão do pluralismo e da flexibilidade em várias esferas da vida social.

  • Para Domingues (2001) a terceira fase da modernidade é por ele chamada de “modernidade de articulação mista”.

  • O pluralismo abre caminho para a coexistência da liberdade e da solidariedade.

  • A modernidade não é uma totalidade e sim um processo.

  • As três fases da modernidade para Domingues (2001 apud ALCÂNTARA, 2005) são:

  1. fase: o liberalismo que tem como elementos: família patriarcal, economia capitalista de mercado, estado liberal, direito formal, cidadania civil e política, esfera pública liberal, individualismo, o direito orientava-se para o passado.

  2. fase: o welfare state, na organização estatal, a maioria dos elementos anteriores se mantém e a eles se acrescentam o crescimento das firmas e a introdução do Fordismo e do consumo em massa, a economia capitalista de mercado permaneceu forte mesmo diante da nacionalização.

  3. fase: a modernidade da articulação mista. Surge da reestruturação do capitalismo o qual adere o caráter flexível e plural.

  • Como não houve rompimento com a modernidade, logo não podemos afirmar que estamos em

    uma sociedade pós-moderna. Não houve “mudança civilizacional”.

  • Na modernidade de articulação mista de acordo com Domingues (2001 apud ALCÂNTARA, 2005) o estado e a sociedade se tornam mais plurais. A solidariedade se difunde.

  • “Isso significa de fato que uma mistura mais complexa e a operação conjunta de princípios de coordenação distinto – mercado, hierarquia e rede – tem sido impostos a nossas relações com a natureza e de uns com os outros.”, (DOMINGUES, 2002, P.231 APUD ALCÂNTARA, 2005, P. 50.).

  • Na modernidade tradicional a racionalização e a liberdade eram questões inquestionáveis.

  • A modernidade de articulação mista deixa de dar valor fundamental para a liberdade e passa para a crença na responsabilidade e na solidariedade, sem esta não há como desenvolver a liberdade. Pois, o imaginário moderno tradicional não se cumpriu, o qual afirma que a liberdade traria consigo a autonomia, a liberdade aconteceu, mas a autonomia não acompanhou.

3. Redes sociais, reflexividade e subjetividade coletiva

  • Reflexividade: “a capacidade do homem pensar a sua própria ação e as ações de outros indivíduos.” (ALCÂNTARA, 2005, p. 51).

  • Reflexividade é um conceito próprio da sociologia e que pode ser definido como: “a reflexividade refere-se ao ‘monitoramento’ que é intrínseco a toda a atividade humana; na modernidade, trata-se de serem todas as atividades sociais suscetíveis de revisão sob a luz de nova ‘informação’ e ‘conhecimento’; a própria reflexão se converte em tópico para reflexão” (DOMINGUES, 2002. p. 60 apud ALCÂNTARA, 2005, p. 51).

4. Teoria social contemporânea e as perspectivas acerca da expansão dos empreendimentos

  • “Modernidade de articulação mista”: a solidariedade é fundamental para o projeto de autonomia e emancipação.

  • Sociedade de desemprego: o salário é substituído por renda.

  • Respostas dos indivíduos ao desemprego:

  1. Mercado informal, Grün (2004).

  2. Empreendedorismo individual: formação de micro e pequenas empresas, benefícios tributário, SIMPLES FEDERAL.

  3. Cooperativismo, que pode ser o tradicional ou o popular, sendo o último baseado nos princípios da Economia Solidária.

  • Formação de redes

  • Economia plural: diz respeito ao entendimento de que a economia moderna é formada não por um mais por diversos princípios. E assim ela pode se segundo Laville (2001 apud ALCÂNTARA, 2005) de três formas: economia mercantil, economia não-mercantil e economia não-monetária.

  • A nova configuração da realidade por essas perspectivas:

  • O terceiro Espírito do capitalismo + modernidade de articulação mista, ou seja, o terceiro estagio do espírito do capitalismo e da modernidade.

ALCÂNTARA, Fernanda Henrique Cupertino. Economia Solidária: o dilema da institucionalização. São Paulo: Arte e Ciência: 2005.

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